A transmissão de informação sobre as vias de contágio e as consequências da sida não chega para prevenir comportamentos de risco, revelam dois estudos feitos por investigadores da Universidade Lusófona junto de adolescentes e jovens adultos que serão apresentados no 8.º Congresso Mundial de Adolescência que começa hoje e termina no sábado, em Lisboa.Tendo em conta que o grosso dos infectados com HIV/sida em Portugal têm entre 20 e 40 anos e que o período de incubação da doença ronda os dez anos, a maior parte terá sido infectada na adolescência ou no início da idade adulta. Quem o afirma é Marina Carvalho, docente de Psicologia na Universidade Lusófona, em Lisboa, e uma das autoras dos estudos que vão ser apresentados num evento organizado pela secção de Medicina do Adolescente da Sociedade Portuguesa de Pediatria em conjunto com a International Association for Adolescent Health.É assim que a prevenção de comportamentos de risco nestas faixas etárias é fundamental, defende a psicóloga. De acordo com dois estudos que assentam em inquéritos, feitos entre 2003 e 2004 junto de 762 adolescentes e 1356 jovens adultos de todo o país, a maior parte dos inquiridos diz estar informada sobre as vias de transmissão e as consequências da doença, mas mesmo assim não alteram os seus comportamentos de risco.O estudo conclui que existe um défice de motivação para mudar de comportamento. No entender de Marina Carvalho, falta dotar os jovens de "aptidões comportamentais", ou seja, por exemplo de ensinar os jovens a terem a capacidade suficiente para dizerem "não" a uma relação sexual não protegida e, ao mesmo tempo, a muitos falta a capacidade para saber usar o preservativo. Não basta informar e dizer que se deve usar sempre o preservativo, é preciso ensinar a usar, preconiza. "É preciso ter a certeza que a informação é transmitida e bem percebida".Os adolescentes e jovens inquiridos percepcionam as consequências negativas (infecção com HIV) de comportamentos sexuais de risco como sendo a muito longo prazo e vêem sobretudo os seus benefícios a curto prazo. Se ficarem infectados, só terão um diagnóstico daqui a dez anos, altura em que a sida terá ainda mais o estatuto de doença crónica com a qual se pode viver, refere Marina Carvalho.A psicóloga afirma que a maior parte das campanhas institucionais continua a assentar na transmissão de informação, que pode mudar alguns comportamentos, mas não a maioria e não a longo prazo.Já a psicóloga e professora da Faculdade de Motricidade Humana, em Lisboa, Margarida Gaspar de Matos, outra das oradoras do congresso, defende que é urgente criar "uma área curricular da educação para a saúde nas escolas", em idades entre os nove e os 15 anos. "Fazer acções informativas é mandar dinheiro pela janela", o mesmo acontecendo com o "tentar meter medo" aos adolescentes em relação aos vários riscos a que estão expostos, como o consumo de substâncias e a ingestão de bebidas alcoólicas, remata.
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